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Tratamento hormonal pós câncer de mama e seus efeitos colaterais


Cerca de 80% dos tumores diagnosticados atualmente, apresentam receptores hormonais (estrogênio e progesterona), e este fato está relacionado ao surgimento e evolução da doença. Isso não significa que a mulher apresenta uma disfunção hormonal, ou que produza mais ou menos hormônio. Apresentar receptor hormonal positivo em seu tumor, significa que o hormônio é uma via de ativação da célula tumoral e, como tratamento da doença, podemos bloquear a ação hormonal ou impedir a formação hormonal da mulher.

O primeiro relato do tratamento hormonal para o câncer de mama que temos descrito, foi em 1895, com um cirurgião chamado Beatson, que realizou a retirada dos ovários em uma paciente com câncer de mama avançado, e conseguiu uma taxa de sobrevida de 46 meses.

O Tamoxifeno, droga mais utilizada no tratamento do câncer de mama, foi descoberto acidentalmente em 1966, quando pesquisadores do Laboratório Imperial Chemical Industries Pharmaceuticals (atualmente AstraZeneca), estudavam substâncias para utilização como contraceptivos de emergência.

O primeiro estudo sobre o uso de Tamoxifeno para portadoras de câncer de mama foi publicado em 1971, no Instituto de Manchester, Inglaterra ( Br J Cancer. 1971 Jun; 25(2): 270–275). Nesta pesquisa, 46 pacientes com tumores de mama avançados ou recidivados, receberam Tamoxifeno, com diminuição do tamanho do tumor e das metástases.

A partir de então, inúmeros estudos foram publicados comprovando a eficácia desta medicação. Outras drogas foram desenvolvidas, com objetivo de impedir a formação hormonal ou impedir a ação dos hormônios no organismo feminino ( Anastrozol, Letrozol, Examestano, Fulvestranto).

O grande inconveniente destas medicações são o tempo de uso e os efeitos colaterais. Inicialmente programados para uma utilização de 5 anos após a cirurgia, hoje grande parte das pacientes deve aumentar o tempo de uso para 10 anos. Os principais efeitos colaterais são fogachos ( ondas de calor), insônia, irritabilidade, ganho de peso, diminuição da libido, osteoporose, ressecamento vaginal entre outros. Agora, imaginem manter a medicação por tanto tempo, como todos estes efeitos colaterais......

Estudos sugerem que 30-50% dos pacientes portadores de patologias crônicas nos países desenvolvidos, não aderem às medicações prescritas. A não adesão ao tratamento é um fenômeno complexo que envolve diversos fatores, incluindo o próprio paciente, o profissional de saúde, a confiança que o paciente tem nesse profissional de saúde e também características específicas da doença, o que torna muito difícil identificar a causa para poder interferir nessa não adesão.

Um grupo de pesquisadores franceses publicou um estudo em 2020 pelo Journal of Clinical Oncology (J Clin Oncol 38:2762-277), onde avaliou a aderência à hormonioterapia nas pacientes em tratamento. 1177 pacientes na pré menopausa com tumores inicias de mama, foram avaliadas após 1 ano do início do tratamento. Elas foram submetida à exames de sangue para determinação da dosagem do Tamoxifeno sanguineo e responderam também um questionário.

Foram encontradas, 188 pacientes (16%) estavam abaixo do limiar sérico de aderência, 145 pacientes (12,3%) de autodeclararam não aderentes, 89 pacientes (7,6%) relataram descontinuação e 56 pacientes (4,7%) relataram interrupções temporárias. Após 2 anos de acompanhamento destas pacientes, 38 delas apresentaram eventos (volta da doença ou morte). Isso representou um aumento de 131% de risco de morte ou recidiva da doença em pacientes que não utilizaram o Tamoxifeno.

A não adesão a terapia endócrina adjuvante é frequentemente sub-reconhecida. Precisamos questionar as pacientes e lidar melhor com os efeitos colaterais do tratamento.

Estudos anteriores sobre o câncer de mama, baseados em métodos diferentes do presente estudo, sugeriram que a não adesão ao tratamento adjuvante ao longo de 5 anos varia de 25 a 50%, com essa proporção aumentando ao longo do tempo

No presente estudo, a avaliação sérica foi capaz de identificar um proporção preocupantemente alta de pacientes que não aderiram apenas 1 ano após a prescrição do Tamoxifeno

Além disso, nesse estudo foi possível concluir que o risco de recorrência aumenta assim que as pacientes deixam de aderir ao tratamento.

Forneceu também informações sobre a complexidade de fatores que levam a não adesão ao tratamento.

É preciso confiança da paciente em conversar com a equipe médica sobre os desconfortos do tratamento. Alternativas podem ser encontradas para evitar uma falha no tratamento, que acarretará em retorno da doença e maior chance de morte.


Colaboração: Dra. Bruna Maia Bollani

CRM 189 392

Residente do 3o ano em Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Universitário São Francisco - Bragança Paulista


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